A origem das irmandades da Misericórdia se deu no final do século 15, em Portugal. Em 1498, por iniciativa da Rainha Leonor de Lencastre e com o apoio espiritual de Frei Miguel de Contreiras, foi criada a primeira Santa Casa do mundo, em Lisboa. O objetivo maior era prestar assistência médica às pessoas mais necessitadas – por isso a palavra Misericórdia, que significa “piedade, compaixão e sentimento despertados pela infelicidade de outrem” . Nascia ali um espaço que seria revestido de uma profunda ação de solidariedade e caridade cristãs. Logo as Santas Casas se espalharam pelas principais cidades e vilas do Reino, e também pelos locais visitados pelos navegadores e religiosos portugueses, o que levou a sua expansão para a África, Ásia e o Brasil.
De acordo com a pesquisadora Yara Khoury, autora do livro “Guia dos arquivos das Santas Casas de Misericórdia do Brasil”, data de 1539 a criação da primeira Santa Casa da Misericórdia no Brasil, na vila de Olinda. Sua finalidade era “cuidar dos pobres e enfermos, socorrer as viúvas, órfãos e necessitados, além de defender as causas dos encarcerados, enterrar os mortos e exercitar outras obras de misericórdia”. Construída no ponto mais elevado da cidade, o hospital recebeu também uma igreja – a Igreja da Misericórdia, existente até hoje –, que seria dedicada a Nossa Senhora da Misericórdia.
Mas durante a invasão holandesa, em 1630, o conjunto foi saqueado e incendiado. Segundo relatos da época, os mercenários batavos – em sua maioria adeptos do protestantismo calvinista – à medida que se apoderavam de Olinda, “iam se entregando a toda a sorte de pilhagem e profanação nas igrejas, onde destruíam paramentos, profanavam imagens e entregavam-se a bebedeiras utilizando os vasos sagrados” (1).
Alguns anos depois, o hospital foi parcialmente restaurado por Maurício de Nassau, mas só foi totalmente restabelecido em 1654, quando Pernambuco foi inteiramente retomado pelas tropas luso-brasileiras e a irmandade pôde retomar suas atividades. Mas a Santa Casa de Misericórdia de Olinda entrava em decadência.
Em 1858, o então presidente da Província de Pernambuco, Benevenuto Augusto de Magalhães, sanciona a lei provincial nº 450, que determina a instalação de uma Irmandade de Misericórdia no Recife. Conforme mostram arquivos da Fundação Joaquim Nabuco, a instalação oficial da Santa Casa de Misericórdia do Recife registra-se em 29 de julho de 1860, dois anos após a promulgação da lei. Em 06 de agosto desse ano, sem condições de atender o seu público, a Santa Casa de Olinda é incorporada a do Recife. No período de 1864 a 1883, a entidade olindense funcionou como um asilo para pessoas com deficiência mental.
A missão da Santa Casa de Misericórdia do Recife destinava-se ao atendimento às chamadas “crianças expostas” do estado de Pernambuco. Eram crianças pobres, filhos de retirantes ou órfãos, que eram recolhidas em diversas instituições de caridade. Outra função da Santa Casa era a prestação de serviços de saúde, sendo referência nesta especialidade à época. Foram entidades administradas pela Santa Casa Recife:
Hoje, a Santa Casa de Misericórdia do Recife é uma organização civil, sem fins lucrativos, subordinada à autoridade eclesiástica da Arquidiocese de Olinda e Recife, regida pelas regras do Direito Canônico e por estatuto próprio. Para acompanhar o crescimento e as necessidades da população, ampliou suas atividades, disponibilizando serviços nas áreas da Saúde, Educação e Assistência Social. Como principais atividades, oferece:
A Santa Casa Recife mantém oito instituições filantrópicas, sendo um hospital, duas escolas (educação regular), três educandários (educação complementar), um abrigo para idosas, um instituto que acolhe pessoas com algum tipo de deficiência visual. Também administra outros projetos, em parceria com os governos municipal e estadual.
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(1) SANTIAGO, Diogo Lopes de, História da Guerra de Pernambuco e feitos memoráveis do mestre de campo João Fernandes Vieira (1634), Recife: FUNDARPE, 1984, p. 341
Cuidado e amor aos pernambucanos.