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01 Mar

"Fraternidade e Diálogo: nosso caminho pascal" é tema de artigo de Dom Fernando Saburido

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Fraternidade e Diálogo: nosso caminho pascal

Mesmo se o tema da Campanha Ecumênica da Fraternidade de 2021 já tenha sido decidido antes da pandemia, de fato, vem responder aos desafios deste momento do mundo e também das Igrejas. Pela quinta vez, a CF é realizada em comum entre a CNBB e o CONIC, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Desta vez propõe como forma de intensificar o caminho pascal, a preocupação e a espiritualidade do Diálogo. De fato, o diálogo é um desafio para toda humanidade e para cada ser humano. Sem diálogo não se construirá a fraternidade universal que o papa Francisco propõe em sua mais recente carta-encíclica.

Atualmente, nessas polêmicas lamentáveis que se têm levantado contra a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 e o seu texto-base, é bom recordar o seu espírito mais profundo e não se deixar prender por pretextos que só nos dividem.  Nos evangelhos, Jesus não teve de se defrontar com adversários contrários à fé e sim com religiosos ligados ao templo que, em nome da própria Bíblia, o acusavam de transgredir os costumes e ir além do que estava escrito. E ele lhes revelou: “Não penseis que vim abolir a Lei e os profetas. Não vim para abolir e sim para cumprir (Mt 5, 17), o que significa leva-los ao seu sentido mais profundo que é o amor. O apóstolo Paulo completará: “A letra mata. O Espírito é que dá vida” (2 Cor 3, 6). É muito oportuno e importante que, neste ano de 2021, o nosso caminho quaresmal e pascal seja aprimorar em nós mesmos a capacidade de dialogar e fazer do diálogo tema de reflexão e oração, gerando, em consequência, práticas e estruturas que se alimentam do diálogo e o sustentam.

Na CF 2020, o tema era o cuidado do outro. Fomos, então, chamados a voltar-se para as outras pessoas e para a natureza com reverência e atitude de acolhida, principalmente atentos a suas vulnerabilidades e ajudando as pessoas a se levantarem. Agora, somos convidados a contemplar a Páscoa de Jesus como um ato de amor à humanidade que nos chama ao diálogo em todas as suas dimensões.

Quem ainda separa fé e vida, fé e caridade, teme que a Campanha da Fraternidade possa ofuscar o nosso olhar e nos distrair da centralidade do Mistério Pascal. Ao contrário, a CF 2021 traz para nós no cotidiano da vida o apelo pascal do Ressuscitado que quer nos encontrar como veio aos discípulos na tarde do domingo da Páscoa e nos dar, como deu a eles, a Paz, a alegria e a reconciliação entre nós, cristãos, assim como a missão de semear e transmitir ressurreição para toda a humanidade e para a nossa terra ferida.

Na fé bíblica, como tão bem expressou o papa São Paulo VI: “Foi Deus quem iniciou o diálogo com a humanidade e nos ensinou a dialogar” (Encíclica Ecclesiam Suam, 2). Foi tomando a iniciativa de dialogar e provocando diálogo que Jesus testemunhou e anunciou ao mundo o reino de Deus.

Quem olha com certa profundidade a humanidade atual percebe que o mundo parece uma imensa Babel. No mundo social e político, opinião pública, comunicação, democracia e direitos humanos podem ter significados diferentes e mesmo opostos. No âmbito das religiões, os movimentos que mais crescem no mundo são os diversos tipos de fundamentalismos. No Cristianismo, no Islã, ou nas tradições orientais, aumentam os grupos que se fecham em dogmatismos. Não percebem que a fé jamais poderá conviver com violência física, verbal, ou de qualquer outro tipo. O caminho da fé, qualquer que seja sua expressão religiosa, só pode ser o amor e o diálogo.

Que esta CF 2021 ajude as nossas Igrejas, membros do CONIC e todas as Igrejas cristãs a sairmos desta pandemia mais unidas e comprometidas com a Paz, a Justiça eco-social e a fraternidade humana, como o papa Francisco propõe: “Sonhemos com uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos e filhas desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos e irmãs” Encíclica Fratelli Tutti, n. 8).

Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife